Viajar nunca teve idade – e para quem passou dos 60 anos, pode ser um passaporte para a saúde e o bem-estar. Segundo especialistas, além de diversão, as viagens na terceira idade oferecem vantagens importantes para o corpo e, principalmente, para a mente.
Benefícios do turismo
A mudança de ambiente, a exploração de novos lugares e o convívio com pessoas diferentes proporcionam um aumento do estímulo mental. Além disso, uma viagem requer programação e itinerário, o que também desafia e aguça o raciocínio. É como uma “musculação cerebral”, segundo Cataldo Neto.
Mas não para por aí. Em um estudo da Universidade de Pequim, os cientistas analisaram os dados de 9.520 idosos para avaliar a relação entre turismo e mortalidade, e observaram que as viagens reduziram o risco de morte em 36,6%.
Segundo a pesquisa, a taxa bruta do risco de mortalidade por todas as causas foi 27% menor entre aqueles com pelo menos uma experiência de turismo. “Quanto mais viagens feitas, menor o risco”, diz o estudo.
Momentos para recordar e afastar a demência
Viajar também pode melhorar a memória, além de trazer alegria, especialmente se o destino for um lugar que trouxe felicidade no passado. “Imagine revistar uma praia onde viveu um grande amor, recordando os seus passos. Haverá um estímulo cerebral muito grande nisso”, exemplifica Cataldo Neto.
Quando as viagens são proporcionadas pela família, também ajudam a fortalecer laços e gerar o sentimento de pertencimento. “Trata-se de um investimento e retorno que gosto de chamar de ‘poupança afetiva’: ao longo da vida, nós levamos nossos filhos e netos para viajar. No envelhecimento, é importante receber isso de volta”, diz o psiquiatra.
Investir nessa poupança faz muito bem para a saúde. Estudos mostram que se sentir solitário na velhice aumenta em 31% o risco de desenvolver demências e eleva em 15% a probabilidade de comprometimento das funções cognitivas, caso da memória e da concentração.
Mas isso não vale só para relações familiares. Excursões também são uma excelente forma de combater a solidão, pois promovem interação social e novas amizades, possibilitando laços com outras pessoas que estão na mesma fase da vida.
E não falta quem conhecer. De acordo com o Ministério do Turismo, cerca de 18 milhões de idosos viajam por ano no Brasil. São de duas a três viagens anualmente, segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagem de São Paulo (Abav-SP).
Melhores destinos
A escolha do destino é muito individual, mas é importante que ele tenha estrutura para possíveis necessidades e imprevistos, diz Jaluul.
Nesse sentido, além de lugares do passado, Cataldo Neto sugere locais com acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida; de climas amenos, evitando extremos de temperatura; e com atividades que respeitem o ritmo e os interesses de cada um.
Ana Carolina Medeiros, presidente do Conselho da Abav-SP, afirma que geralmente os viajantes acima de 60 anos preferem experiências tranquilas e bem planejadas, com maior interesse por destinos nacionais.
Mas Rodrigo Pastore, diretor de uma agência especializada em viagens para a terceira idade, diz que esse quadro tem mudado. “As pessoas estão procurando destinos mais exóticos. É uma demanda que vem crescendo, por isso estamos agora visitando a Patagônia, Tailândia, Vietnã”, comenta.
“O melhor destino é o que consegue unir a demanda do público com uma boa estrutura”, resume o executivo da Pastore Turismo.
Existe idade máxima?
A resposta é não. “A idade em si nunca é um fator limitador, mas sim as condições físicas e cognitivas”, destaca Jaluul. “Por exemplo, um idoso de 90 anos pode ter uma capacidade física e mental melhor do que um de 60 anos”, completa.
Por isso, independentemente da idade, o importante é planejar o passeio com calma e, se necessário, procurar um profissional de saúde que possa dar as devidas orientações. Com boas condições de saúde e cuidado, a viagem estará sempre liberada.
Quais os cuidados necessários?
Se a viagem for organizada pela família, o idoso deve ser o protagonista. O planejamento precisa considerar suas preferências e limitações, além de incluir uma programação clara e horários que respeitem sua rotina. “No consultório, vejo muitos relatos de viagens frustrantes porque o idoso foi incluído apenas para pagar a conta, enquanto a programação era toda voltada para os jovens. Isso gera estresse, depressão e a sensação de estar sendo explorado — uma experiência ruim em todos os sentidos”, alerta Cataldo Neto.
Antes de viajar, a precaução mais importante é realizar uma avaliação de saúde. Na consulta, o médico poderá identificar condições preexistentes que possam exigir atenção especial durante a viagem e passar recomendações específicas.
- Atenção aos medicamentos
Também é essencial organizar os medicamentos e ter as receitas médicas em mãos. Para os remédios de uso contínuo, a dica é levar doses extras para cobrir eventuais imprevistos. Além disso, considere incluir medicamentos básicos, como analgésicos, para tratar sintomas leves. Ter o contato do médico para acioná-lo em caso de necessidade pode ser muito útil.
O seguro é importante para viabilizar assistência médica em viagens internacionais.
Outro ponto fundamental é verificar se os documentos necessários, como passaporte e carteira de identidade, estão válidos.
- Ônibus, carro ou avião?
Os médicos afirmam que não há preferência por um meio de transporte. Tudo depende do tempo da viagem e das condições físicas de cada um. Em viagens longas, é recomendado fazer paradas regulares para se movimentar e evitar problemas como trombose. Por vezes, o uso de meia elástica de média compressão e medicações para “afinar” o sangue são necessários.
Durante os passeios, lembre-se de se hidratar regularmente, pois a desidratação ocorre mais rapidamente com o avanço da idade. Levar uma garrafa de água e aplicar protetor solar são hábitos indispensáveis. Por fim, escolha roupas adequadas para se proteger do sol e para passear de forma confortável. Assim, será possível aproveitar a experiência ao máximo e carregar a mala com boas recordações.