Nos EUA, Elon Musk; por aqui, depreciação. O que separa locadoras do carro elétrico?

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por Jornal Net Redação
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Personagem que domina o noticiário brasileiro desde o final de semana, Elon Musk é conhecido por seu gênio forte e polêmico, criando briga com pessoas, empresas, governos e setores. Dentre eles, está o de locadoras de veículos, lá nos EUA. A Tesla, fabricante de carros elétricos do bilionário, cortou agressivamente os preços dos veículos, ano passado, prejudicando os negócios da Hertz, uma das maiores empresas de locação de automóveis do mundo.

Como consequência, neste começo de ano, a Hertz começou a colocar em prática seu plano de reduzir, drasticamente, sua frota de elétricos, voltando aos tradicionais veículos à combustão. Isso por conta do baixo preço de revenda dos usados (grande negócio das locadoras), após o período de uso por parte de seus clientes. Em 2021, a Hertz adquiriu 100 mil unidades da Tesla, o que fez a empresa de Musk ser a sua maior fornecedora, de elétricos, com cerca de 80% de sua frota nesta categoria.

Mas o negócio – como se vê – não deu liga. E, ao longo deste ano, a Hertz vai despejar veículos elétricos usados no mercado americano. Conforme trouxe a Bloomberg, em reportagem sobre a disputa, em janeiro, os cortes de preços da Tesla, em estratégia de Elon Musk, ao longo do ano passado, reduziram o valor dos carros da frota da Hertz e, com a desaceleração das vendas de veículos elétricos, parece que o apetite por estes veículos caiu drasticamente, nos Estados Unidos.

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Carro elétrico das locadoras brasileiras

Se não está sendo fácil nos EUA, o mesmo não seria diferente por aqui, no Brasil. E as locadoras brasileiras estão indo pelo mesmo caminho – se livrar dos elétricos de sua frota. A máxima de que, no futuro, teríamos carros voadores, portanto, já virou piada pela internet a fora. Mas, da fantasia futurista presente nos desenhos que assistíamos, algo tornou-se realidade: não nos elétricos, mas nos carros híbridos.

E, para as locadoras no Brasil, essa parece ser a estrada a ser percorrida nos próximos anos. Não por acaso, locadoras de veículos, como Movida (MOVI3) e Localiza (RENT3), tendem a abrir mão do futuro 100% elétrico previsto por tantos especialistas. E isso parece fazer sentido, segundo especialistas.

Depreciação

De acordo com a Ativa Research, a resposta, no Brasil, é uma combinação de três fatores: depreciação pior dos eletrificados, custos de manutenção e demanda abaixo do esperado (em especial, no segmento Rent-a-Car – RAC). Os custos de manutenção são considerados elevados mesmo com a noção de que diversos componentes do carro sejam mais baratos que os presentes nos veículos a combustão. Os aluguéis mais curtos, presentes no RAC, também apresentam demanda abaixo do esperado, de acordo com o analista da Ativa. O real vilão, no entanto, seria realmente a depreciação.

“As locadoras já vêm sofrendo com uma depreciação maior da frota, dada a menor demanda por veículos seminovos. No entanto, para esses veículos, observamos que a queda do preço é ainda maior, o que só seria rentável para as locadoras se a demanda pelo aluguel desse segmento fosse robusta e as companhias pudessem repassar no preço das diárias essa maior diferença entre o preço de compra e venda do carro”, considera a divisão de análise da corretora.

Vale destacar, no entanto, que embora o impacto de venda de veículos no geral seja muito relevante para os players do setor, a frota de elétricos ainda é muito pequena. “Últimos dados da Associação Brasileira de Locadoras (ABLA) afirmam que cerca de 0,5% da frota total do setor é elétrica. Localiza e Movida não abrem o seu mix de veículos”, comenta a Ativa Research. Procuradas, as empresas não fizeram comentários ao InfoMoney sobre o assunto.

Chuveiro elétrico

Para Carlos Roma, diretor do Grupo de Infraestrutura e integrante do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e diretor da TB Green (empresa de locação de veículos elétricos e soluções de energia limpa), o cenário no Brasil é de acomodação de preços pela chegada de veículos chineses, com carros comprados anteriormente se apresentando com preços muito menores. Lá fora, os preços da Tesla foram responsáveis pela chamada “destruição da equação da Hertz”, de acordo com Roma.

“Então, algumas locadoras, elas optam por vender esse carro. Outras como a gente, por permanecer mais tempo com o carro, até que a gente possa conseguir contratos que paguem essa acomodação de preços que o mercado está fazendo. Cada um faz a sua estratégia e decide ganhar dinheiro em maior ou menor tempo.”, explica.

“O brasileiro gosta de carros elétricos e gosta de carros híbridos e gosta de híbridos plug-in. Você vê isso no crescimento do setor. Os 100% elétricos estão baixando de preço. E isso atrapalha a equação da locadora”, explica o executivo.

Em sua visão, a guinada para os veículos elétricos é um caminho positivo e sem volta. Em relação à ausência ainda de robusta infraestrutura, Roma destaca que a demanda é anterior a presença de eletropostos e que a presença de veículos elétricos com preços mais democráticos poderá impulsionar sua criação. Um dos mitos do uso dos veículos seria justamente a complicada instalação de postos para recarga e, de acordo com Roma, uma tomada que suporta um chuveiro elétrico já seria suficiente, em âmbito doméstico, para a recarga completa.

“Vindo aos carros mais baratos, ou mais acessíveis, o bicho homem sabe fazer infraestrutura, inversor, cabos, transformador, cabine primária, rede de alta tensão, ele sabe fazer isso há 120 anos. Agora, fazer um carro com uma bateria barata, ele não sabe ainda”, explica. No caso dos carros elétricos, a bateria pode chegar a 50% do valor do veículo, sendo o principal componente “encarecedor” e conta com 8 a 10 anos de prazo de garantia.

Revenda prejudicada

De acordo com J.R. Caporal, da AutoAvaliar, autotech focada mercado B2B para anunciantes e revendedores, nas negociações que acompanha há pouquíssimos carros elétricos provenientes de locadoras como Movida e Localiza. “E o que vende, vende com prejuízo”, aponta.

Outro ponto que Caporal reforça é que os carros que hoje são vendidos como novos, ao regressarem para revenda como seminovos, enfrentarão maior depreciação por terem se tornado obsoletos como novas tecnologias, como a potencial bateria sólida. Além disso, para carros elétricos que passaram por acidentes, a desconfiança torna-se ainda maior por eventuais danos causados à bateria.

Fonte: Externa

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