“Um começo promissor”. Essa é a legenda de um vídeo que circula nas redes sociais mostrando um jovem com síndrome de down emocionado ao conseguir o primeiro emprego em um café. O conteúdo, publicado pela mãe de Mario, Vita Mazzotta, repercutiu em diversos jornais da Itália — país onde vive o protagonista da história — e foi compartilhado por pessoas de diversas partes do mundo com mensagens de “bom trabalho” e “parabéns” pela conquista.
Mario tem síndrome de down, também chamada de trissomia do cromossomo 21. Aos 24 anos, o jovem italiano conseguiu o primeiro trabalho no café D.O.C., em Lecce, como barista. O conteúdo foi publicado no fim de maio no Facebook e já tem mais de 800 mil visualizações na rede. Confira o vídeo:
“E como você pode não compartilhar essa emoção? Você o encontrará no Bar D.O.C da Piazzetta delle Fontane em Torre dell’Orso (Lecce) aos sábados e domingos… um começo promissor… Seus olhos estão chorando, meu coração está chorando”, diz a legenda do post de Mazzota.
Além dos desejos de “bom trabalho”, pessoas comentaram também sobre a falta de inclusão no mercado de trabalho. Já outros formaram uma grande corrente no intuito de incentivar a visitação ao local em que Mario trabalha.
“O mundo é um lugar realmente sombrio. Ver uma pessoa chorar de alegria por algo que deveria ser acessível a todas as pessoas faz meu coração doer”, diz um comentário na publicação do jornal Il Messaggero.
Já outras pessoas comentaram no post da mãe de Mario: “viremos em breve com toda a família para tomar café da manhã” e “vamos todos visitar Mario”.
Em entrevista ao jornal Corriere Della Serra, Vita, mãe de Mario, disse que “não deveria ser um fato extraordinário contratar uma pessoa com deficiência” e completou: “mas na sociedade em que vivemos não há espaço para eles”.
Segundo o jornal, esse foi o primeiro contrato de trabalho firmado pelo jovem, que é formado em hotelaria.
Inclusão de PCD’s no Brasil
Os dados mais atualizados sobre o panorama de contratação de Pessoas com Deficiência (PCD’s) no Brasil mostram que o país tem 545,9 mil trabalhadores com deficiência atuando no mercado de trabalho. O levantamento foi elaborado pela Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com base em informações do eSocial em janeiro deste ano.
Ao todo, o país tem 18,5 milhões de pessoas, com dois anos ou mais de idade com deficiência, segundo a PNAD anual de 2022.
Dados do mesmo ano mostram que de cada quatro pessoas com deficiência em idade de trabalhar, apenas uma estava ocupada. A informações são do módulo Pessoas com deficiência, da Pnad Contínua 2022, os últimos disponíveis sobre o assunto segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Além disso, o nível de ocupação entre as pessoas com deficiência, ou seja, que estão em idade de trabalhar e estão ocupadas, é de apenas 26,6%, contra 60,7% da população brasileira sem deficiência.
Daniele Avelino, consultora em Diversidade e Inclusão e gestora de RH, explica que a dificuldade maior em relação a contratação de PCD’s ainda está relacionada ao grau de instrução das pessoas que, em sua maioria, são de nível médio. “Isso dificulta para as empresas fazerem contratações direcionadas para funções mais estratégicas, por exemplo, onde são exigidas graduações, pós, entre outros”.
Mas há discrepância na contratação de PCD’s a depender do tipo de deficiência, de acordo com dados também de 2022 do Relatório Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Enquanto a maioria dos PCD’s empregados possuem deficiência física (43,95%), visual (18,07%) ou auditiva (17,46%), a menor taxa de representação de PCD’s contratados está na deficiência intelectual (10,11%), seguida de reabilitado (6,90%) e múltiplas deficiências (3,52%).
Bruno Nogueira, diretor de contas no LinkedIn e palestrante na área de empregabilidade para PCD’s explica que, para além da legislação — que obriga que empresas acima de 100 colaboradores tenha um percentual do quadro composto por PCD’s —, a contratação é benéfica para empresas porque já há pesquisas que comprovam que times e organizações obtêm melhores resultados ao trazer diversidade para as companhias, incluindo pessoas com deficiência.
“Para as empresas terem lucro maior é necessário ter times diversos. Mas a contratação impacta, principalmente, para ser fator de transformação em um mundo melhor, de como a empresa pode ser agente de transformação. Quando você permite com que um time ou um gestor tenha contato com uma pessoa com deficiência pela primeira vez não é uma experiência só da organização, é uma experiência de vida dessa pessoas”, destaca.
Porém, segundo os especialistas ouvidos pelo Valor, não basta apenas contratar, é necessário trabalhar a inclusão dentro da organização. Isso deve ser feito com:
- Preparação do ambiente, gestor e time que vai receber essa pessoa com deficiência;
- Preparação da empresa em relação à acessibilidade arquitetônica, acessibilidade comunicacional e educacional;
- Dar voz e espaço para que as pessoas consigam se desenvolver e falar sobre as necessidades em relação ao trabalho;
- Criar plano de carreira;
- Dar autonomia e senso de pertencimento para que essa pessoa possa entregar os seus resultados como qualquer outra pessoa da organização que esteja no mercado de trabalho.