Uma homenagem à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) nesta segunda-feira (25), em São Paulo, transformou-se em um ato de desagravo de bolsonaristas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), repleto de menções religiosas. Alvo de uma operação da Polícia Federal, que investiga a suposta tentativa de golpe no país, Bolsonaro foi tratado por aliados como um “perseguido”, em evento no Theatro Municipal de São Paulo.
A ex-primeira-dama recebeu o título de cidadã paulistana, em homenagem feita pelo vereador Rinaldo Digiglio (União), em ato político que reuniu o presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), e parlamentares bolsonaristas. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi representado por sua esposa, Cristiane.
Michelle e Bolsonaro discursaram e tentaram se mostrar como vítimas de supostas “perseguições” políticas, em um evento que pareceu ter se transformado em um culto religioso. “Sofremos perseguições, distorcem falas, tentam destruir nossa reputação”, disse a ex-primeira-dama.
Com um discurso repleto de menções religiosas, Michelle disse que “Deus lhe confiou uma missão” e disse que o Brasil “voltará a ser governado por pessoas de bem”. O ex-presidente afirmou que tem passado “por momentos difíceis”.
Autor da homenagem, o vereador e pastor Rinaldi Digiglio reforçou a tese de que Bolsonaro e Michelle são vítimas. “Ela e o [ex] presidente Bolsonaro sabem o que é perseguição”, disse, em meio a críticas a políticos de esquerda.
Cotada como um possível nome para disputar a Presidência em 2026, Michelle foi exaltada pelo parlamentar. “O inimigo não está te atacando porque você é fraca, está te atacando porque você é ameaça”, disse. “Não desista porque virá um novo ciclo e sua vida e a maré está virando a seu favor”, afirmou.
Na mesma linha, o prefeito e pré-candidato à reeleição Ricardo Nunes disse que Michelle “arrasta” admiradores e a incentivou a “vencer algumas pessoas que insistem em fazer perseguições”.
Coautores do projeto para dar o título de cidadã paulistana à ex-primeira-dama, Rubinho Nunes (União) e Fernando Holiday (PL) reclamaram dos ataques à família Bolsonaro. “As investidas contra vocês só mostram a injustiça que é praticada contra a família Bolsonaro”, disse Rubinho.
No início e no fim da homenagem, a orquestra sinfônica da Polícia Militar animou os apoiadores da família Bolsonaro. O Theatro Municipal ficou esvaziado. As galerias estavam vazias e na plateia, havia cadeiras sem público. Gritos de “Glória a Deus” eram intercalados com gritos “mito” e “volta, Bolsonaro”. No fim do evento, o vereador e pastor fez uma oração.
Rinaldo Digiglio disse ter contraído um empréstimo de R$ 100 mil para pagar o aluguel do Theatro Municipal. A escolha do lugar para a homenagem foi alvo de contestação na Justiça. Em geral, as entregas do título de cidadão paulistano são feitas na Câmara Municipal, mas Digiglio quis fazer no Theatro, sob a justificativa de que a capacidade de público é maior. Parlamentares do Psol recorreram ao Judiciário para impedir o uso do local para a homenagem.
Na sexta-feira, a 10ª Câmara de Direito Público impediu que a cerimônia fosse feita no Theatro, custeada pelos cofres públicos. O Tribunal de Justiça de São Paulo determinou o cumprimento da decisão. Digiglio, no entanto, disse ter alugado o local.