O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, afirmou que acionou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), depois das acusações do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), que fechou acordo de delação premiada com a corporação.
“Fomos acusados, e representamos ao STF para que as graves acusações sejam esclarecidas”, disse ao Valor.
Em áudios enviados a um amigo, o militar afirmou que PF tinha uma “narrativa pronta” e disse que os investigadores “não queriam saber a verdade” durante os depoimentos que prestou no âmbito da delação. As gravações foram reveladas pela revista “Veja”.
Após o pedido da PF, Moraes convocou Mauro Cid a prestar um novo depoimento nesta sexta-feira. Não se descarta que o ex-auxiliar de Bolsonaro perca os benefícios do acordo e volte para cadeia.
A oitiva vai ser realizada pelo juiz instrutor do gabinete de Moraes, Airton Vieira, que participará por videoconferência. O tenente-coronel e a defesa, além de representantes da Procuradoria-Geral da República (PGR), devem ir presencialmente à Corte.
Mauro Cid decidiu fechar a delação depois de ser preso, em maio do ano passado, no âmbito das investigações sobre a falsificação de certificados da vacina da covid-19. No início da semana, ele e Bolsonaro foram indiciados pela PF.
Os depoimentos do tenente-coronel ajudaram os investigadores a avançar em outras frentes, especialmente sobre a suposta tentativa de golpe tramada de dentro do Palácio da Alvorada, após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições.
Em nota, a defesa de Mauro Cid confirmou o teor dos áudios, mas afirmou que, em nenhum momento, ele colocou “em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador, aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios”.
“Referidos áudios divulgados pela revista ‘Veja’, ao que parecem clandestinos, não passam de um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda”, disse.
Segundo a defesa, as gravações “não comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial, na presença de seus defensores constituídos e devidamente homologada pelo Supremo Tribunal Federal nos estritos termos da legalidade”.