O câncer de mama é o principal tumor que acomete mulheres no Brasil e no mundo. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o País deve registrar cerca de 74 mil novos casos entre 2023 e 2025. Isso representa aproximadamente 66 casos para cada 100 mil mulheres. Entre avanços científicos, novos protocolos de tratamento e um maior volume de informações, a doença caminha para se tornar cada vez mais controlável, com taxas de cura que podem ultrapassar 90% quando diagnosticada precocemente.
E essa revolução começa com o básico: informação. “Saúde é o nosso maior capital. Por isso, é preciso fazer com que todo conhecimento, hoje circunscrito ao universo médico, científico e acadêmico, se transforme em ferramenta de prevenção e cura”, conta Julia Presotto, idealizadora do MAMA, uma plataforma de comunicação que conecta conhecimentos multidisciplinares e experiências para a prevenção do câncer de mama.
Logo depois do tratamento, Bruna Lauer foi morar em um sítio, começou a trabalhar como produtora cultural e a escrever Foto: Daniel Petrucci/ Divulgação
Graziela Dal Molin, vice-presidente do Grupo EVA e membro do Board IGCS, complementa: “Hoje nós sabemos, por exemplo, que o câncer acomete uma quantidade muito grande de pessoas e isso tem a ver com os hábitos de vida da nossa população. Esse é um dos motivos do aumento do câncer, principalmente o câncer de mama. Nós sabemos que o fumo, a obesidade, uma dieta rica em alimentos industrializados são fatores conhecidos para o aumento do risco”.
Do autocuidado ao diagnóstico precoce
O caminho da prevenção e do autocuidado é muito importante para a qualidade de vida da mulher. Por isso, é preciso redobrar a atenção a alguns sinais:
· Alterações no formato ou tamanho das mamas
· Mudanças na pele (vermelhidão, descamação ou “casca de laranja”)
· Alterações no mamilo (inversão ou retração)
· Presença de nódulos ou espessamentos
· Secreção mamária fora do período de amamentação
Mas não só. Para além do autocuidado, o diagnóstico precoce tem se mostrado uma das principais armas contra a doença. A introdução da mamografia de rastreamento na década de 80 foi um divisor de águas, reduzindo em 20% a mortalidade e duplicando o número de diagnósticos em estágio inicial, mas a medicina não parou por aí. Atualmente, a Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda que mulheres a partir dos 40 anos realizem mamografia anualmente.
Ultrassonografia das mamas, quando solicitada pelo médico, e exame clínico das mamas anuais também são recomendados. Para aquelas com histórico familiar da doença, a recomendação é iniciar o rastreamento 10 anos antes da idade em que o parente mais jovem foi diagnosticado.
A importância de conhecer os subtipos do câncer de mama
Além disso, o conhecimento científico sobre a doença também tem avançado. “Sabemos, por exemplo, que, se a célula precursora possui uma ligação com receptores hormonais, como estrógeno e progesterona, chamamos esses tumores de luminais. Se ela está relacionada a uma proteína chamada HER2, chamamos isso de um tumor HER2 positivo. Se ela não é positiva nem para HER2, nem para receptor de estrógeno, nem para receptor de progesterona, nós vamos chamar esse tumor de triplo-negativo. Então, esses diferentes subtipos são extremamente importantes de serem conhecidos porque têm impacto não só no diagnóstico, mas também no prognóstico e no tratamento escolhido”, explica Breno Jeha Araújo, oncologista da Oncoclínicas especializado em genômica clínica.
Na doença metastática, por exemplo, os avanços são igualmente impressionantes. Pacientes com tumores HER-2 positivo, que há 20 anos tinham expectativa de vida de apenas 24 meses, hoje podem viver cinco anos ou mais com as novas terapias disponíveis.
Uma história de superação
Em 2019, com 32 anos de idade, a publicitária Bruna Lauer descobriu que tinha câncer de mama. “Ele era um triplo-negativo, que já indicava uma possível mutação genética. Nessa época eu fiz um exame de sangue e descobri que tinha mesmo a mutação BRCA1, que pode aumentar o risco de desenvolver câncer de mama e de ovário”, conta.
Na época, Bruna fez o tratamento recomendado e optou por uma cirurgia considerada conservadora, ou seja, um procedimento cirúrgico que remove o tumor sem remover o órgão. “Quanto mais eu vivo, mais eu tenho a certeza de que a medicina fala sobre probabilidade, ou seja, chances maiores ou menores de acordo com pesquisas e estudos. E eu acho que esse foi um dos pontos pelos quais, na época, eu decidi não tirar a mama. Na ocasião eu achei que era uma cirurgia muito agressiva e que, de alguma forma, me faria lembrar todos os dias do câncer, que era uma coisa que eu não queria. Por mais que eu tenha lidado bem, não era uma coisa que eu queria ficar pensando o tempo todo”, explica.
Logo depois do tratamento, Bruna foi morar em um sítio, começou a trabalhar como produtora cultural e a escrever. Dessa nova vida, veio o livro Uma Oitava Acima e muitas outras conquistas.
O tempo passou e, por ironia do destino, no ano passado, Bruna marcou sua consulta de cinco anos, um marco especial para quem tem câncer, e descobriu um nódulo na outra mama. Então, era um novo caso. “E aí foi um grande mergulho e profundo porque eu estava em um momento ótimo, eu estava feliz. E quando veio o novo diagnóstico, a minha sensação foi a de entender que eu poderia morrer e isso fez com que eu abrisse ainda mais a minha mente”, conta.
Depois de pensar e conversar muito com seus médicos, Bruna tomou uma decisão. “Em julho de 2024 eu retirei as mamas e, em dezembro, os ovários. E aí eu percebi que realmente não teria estrutura emocional para lidar com isso antes. A cirurgia da retirada das mamas é muito impactante. É muito difícil você entrar numa cirurgia se sentindo bem e sair da cirurgia se sentindo atropelada. Eu fiquei muito sensibilizada, com muita dificuldade de me conectar com esse novo corpo. Hoje, eu só agradeço por ter tido a oportunidade de fazer essa cirurgia com um médico muito habilidoso, que me deixou bem, e ter uma rede de apoio e muita ajuda porque isso faz a diferença”, finaliza.
O desafio da conscientização
Com pesquisas e novos tratamentos sendo desenvolvidos, o futuro do combate ao câncer de mama nunca esteve tão promissor. A chave está em garantir que esses avanços cheguem a todas as mulheres, independentemente de sua condição socioeconômica, transformando conhecimento científico em vidas salvas. “Nós temos cada vez mais novas tecnologias de exames, cada vez mais drogas disponíveis, mas o acesso ainda é uma grande barreira no sistema privado de saúde do Brasil, mas principalmente no sistema público. Muitas vezes a paciente demora para conseguir uma biópsia, demora para conseguir um tratamento, isso realmente pode impactar a saúde das nossas pacientes”, lamenta Graziela.
A vice-presidente do Grupo EVA ainda acrescenta: “Então, o engajamento da sociedade nas consultas públicas, junto às nossas entidades e governo, é fundamental para que a gente consiga brigar por uma medicina de mais qualidade, com mais equidade no nosso país”.