Odontologia biológica: vendida como inovadora, especialidade não existe, alertam conselhos da área

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por Jornal Net Redação
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O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) emitiu um alerta sobre a importância de cirurgiões-dentistas, profissionais da odontologia e a sociedade em geral terem em mente que não existe a especialidade odontologia biológica. A entidade explica que profissionais têm vendido serviços relacionados a essa área, bem como difundido na internet conteúdos sobre o tema, mas ela não é reconhecida pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO), autoridade reguladora da profissão, como especialidade nem como habilitação. O motivo para isso, conforme destaca o CROSP, é que ela não possui comprovação científica.

O profissional que se anunciar como especialista em áreas não reconhecidas pelo CFO, como Odontologia Biológica, poderá responder por infração ética e ficar sujeito a penalidades Foto: satura_/Adobe Stock

O que seria a odontologia biológica?

Basta uma busca pelo termo na internet para ser direcionado a diversos sites que a descrevem como a especialidade de alguns dentistas. Não há uma definição oficial, mas os conteúdos dizem que se trata de uma abordagem que minimiza danos à saúde causados por condutas e materiais usados em tratamentos odontológicos clássicos. Além disso, os sites informam que essa é a perspectiva que compreende que um dente com problemas pode causar disfunções em outros órgãos, como o coração.

Por outro lado, o termo e a especialidade não apenas têm a existência negada pelo CFO, como a sua divulgação pode ser considerada uma infração ao código de ética da profissão. Essa entidade é quem define as atribuições profissionais de mais de 400 mil cirurgiões-dentistas.

O CROSP também classifica as propostas dos dentistas biológicos como enganosas. A entidade chama a atenção para conteúdos disseminados nas redes sociais e que abordam os supostos efeitos tóxicos do flúor e da amálgama, por exemplo. Tanto o flúor, utilizado na prevenção de cáries, como a amálgama, liga metálica presente em restaurações dentárias antigas, são considerados seguros, segundo a entidade.

No alerta, o CROSP afirma: “O profissional que divulgar essa modalidade de procedimentos ou se anunciar como especialista em áreas não reconhecidas pelo CFO poderá responder por infração ética e estar sujeito a penalidades previstas no artigo 44 do Código de Ética Odontológica”. Segundo as normas, é proibido o anúncio ou a divulgação de técnicas, terapias e áreas que não sejam cientificamente comprovadas, assim como anunciar a cura de doenças para as quais não exista tratamento eficaz.

A boca como microssistema

De acordo com o que é vendido pela odontologia biológica, dentes como os incisivos centrais e laterais, por exemplo, poderiam ter uma relação direta com desordens no sistema urinário, reprodutivo, esquelético e, até mesmo, emocionais. Ainda, o uso de aparelhos ortodônticos ou o posicionamento incorreto dos dentes poderiam levar a problemas como infertilidade.

No entanto, como explica José Carlos Pettorossi Imparato, conselheiro do CROSP e professor da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), não há estudos robustos ou publicações em revistas científicas de renome que possam comprovar as teorias defendidas por essa modalidade.

Para o especialista, a difusão dessas mensagens causa preocupação, especialmente considerando que a suposta especialidade leva a população a acreditar em eventuais curas de doenças que não foram comprovadas cientificamente, além de difundir um sentimento de culpa e medo entre a comunidade.

“O dente é um órgão, mas fazer essa relação é um absurdo”, reflete. Imperato destaca que, embora o campo se venda como inovador por ser integrativo, isto é, como um ramo que olha para o corpo do paciente como um todo, todas as áreas da odontologia já têm a responsabilidade de fazer um atendimento integral, considerando que a saúde bucal e geral de fato estão intimamente ligadas. No entanto, essa relação tão direta entre dentes específicos e órgãos, afirmada pela odontologia biológica, é descrita pelos especialistas do CROSP como “bizarra”.

Amálgama traz riscos?

De acordo com o alerta do CROSP, um outro tópico muito abordado pela odontologia biológica é sobre o uso de amálgama. Segundo os conteúdos, a remoção dessa liga é necessária, pois ela faria mal à saúde. Mas o processo de remoção, por sua vez, precisaria de um cuidado especial, pois traria o risco de intoxicação. Com isso, os profissionais oferecem serviços especializados com “protocolos de segurança específicos”.

Diante disso, a entidade relata que o tema assumiu uma enorme proporção, demandando a atenção de órgãos internacionais. Em resposta, o Comitê Científico sobre Riscos Emergentes e Recém-Identificados à Saúde, órgão da União Europeia (UE), por exemplo, afirma não haver evidências sobre os efeitos adversos à saúde causados pelo mercúrio presente no amálgama odontológico.

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Em nota, o cirurgião-dentista Camillo Anauete Netto, doutor em Odontologia e membro da Câmara Técnica de Dentística do CROSP, explica que os níveis de mercúrio na composição da amálgama nas restaurações dentárias são muito baixos e não representam perigo à saúde, mesmo que o paciente possua restaurações com a substância em toda a sua boca.

A questão da remoção da amálgama entra na proposta da suposta área de “proteger” o paciente dos malefícios causados pelos materiais comumente usados em procedimentos odontológicos. Sobre isso, o CROSP informa que possui documentos técnicos, junto ao CFO e entidades científicas, que ressaltam que os equipamentos utilizados por cirurgiões-dentistas são seguros para proteção de profissionais e pacientes durante a remoção das restaurações de amálgama, incluindo equipamentos de proteção individuais (EPIs) tradicionais, sugador, separador de resíduos e dique de borracha.

Outras questões

Ainda segundo o CROSP, os “dentistas biológicos” citam em seus anúncios a toxicidade do flúor para a saúde; associação entre contenção ortodôntica e infertilidade; e a afirmação de que a endodontia pode levar a focos de infecção que se perpetuarão por toda a vida.

No entanto, a entidade paulista alerta: “As publicações a respeito do assunto são aventadas pelos defensores da prática, sem nenhum embasamento científico, produzidas e publicadas, muitas vezes, em folhetins criados especialmente para isso, ou periódicos sem nenhuma credibilidade, caracterizando mais uma fake news”.

Fonte: Externa

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